A primeira cartinha a gente nunca esquece
Oi, gente! Aqui quem fala é a Lari, ilustradora e artista independente.
Resolvi abrir 2019 inaugurando esse espaço pra falar das novidades,
inspirações, dicas e divagações que brotarem por aqui.
Nessa newsletter estreante vou falar sobre os seguintes assuntos:
// Calendário Ilustrado 2019 Delas Por Elas
// Experimentos em cerâmica
// Leituras, Sylvia Plath e os silenciamentos da mulher
// Calendário Ilustrado 2019 Delas Por Elas
No final do ano passado pude participar da minha primeira campanha de financiamento coletivo, e que realmente foi fruto de um trabalho coletivo!
Eu e mais 11 mulheres ilustramos o Calendário Delas Por Elas 2019 e, juntas, divulgamos a campanha de crowdfunding que alcançou a meta e foi produzido com sucesso ♥️
Cada mês foi ilustrado por uma artista, homenageando mulheres de destaque em diversas áreas de atuação e/ou que contribuíram na luta pela igualdade de gênero. Fui responsável pela ilustração do mês de Fevereiro, retratando a artista, música e ativista Violeta Parra.
Quem não participou do financiamento coletivo agora tem uma segunda chance pra comprar o calendário, mas se liga: tenho apenas 4 unidades disponíveis na loja virtual. Se interessou? Clica aqui para comprar!
Mas, afinal: quem foi Violeta Parra?
Chilena, filha de uma camponesa e um músico pobre, Violeta ficou conhecida pelo seu temperamento forte e engajamento político. Além de cantora e compositora, também era ceramista, pintora e bordadeira. A artista foi a primeira latino-americana a ter uma exposição individual no Museu do Louvre, em 1964. Foi através destes canais artísticos que ela narrou sua indignação com as desigualdades sociais e as dificuldades da própria vida.
O trabalho realizado por Violeta Parra como compositora e folclorista foi um dos mais importantes para a preservação do patrimônio cultural chileno. Durante anos percorreu todo o Chile gravando inúmeras manifestações artísticas genuinamente populares que, hoje, estariam desaparecidas se não fosse sua iniciativa em coletar poemas e canções do povo.
Antes de começar minha ilustração da Violeta para o Calendário, fiz algumas pesquisas sobre a artista e descobri um filme biográfico sobre ela, dirigido por Andrés Wood, e lançado em 2011. Abaixo, o trailer do filme Violeta Foi para o Céu:
O filme Violeta foi para o Céu conta a trajetória da artista seguindo uma narrativa não-cronológica.
Histórias de sua infância, viagens e vivências artísticas são intercaladas com trechos de uma entrevista que Violeta deu à televisão em 1962.
Vale a pena assistir ♥️
/ Experimentos em cerâmica
No final do ano passado fiz uma oficina de cerâmica com a Amanda Cursino aqui no Rio de Janeiro. Há tempos eu estava namorando a técnica! Curti muito desenhar em 3 dimensões. A foto acima mostra as 3 peças que desenvolvi na oficina. O peixe sofreu um acidente na última queima (uma outra escultura da mesma fornada explodiu e os cacos grudaram nele) e o pássaro maior ficou com uma pequena rachadura na asa. São erros e casualidades próprias da técnica que nos fazem aprender com o processo.
Meu projeto pessoal para 2019 é explorar a cerâmica como expressão artística e já marquei aulas com outra professora. Contarei mais sobre essas experiências nas próximas cartinhas virtuais.
// Leituras, Sylvia Plath e os silenciamentos da mulher
Estou lendo uma biografia sobre a Sylvia Plath, escrito pela jornalista Janet Malcolm, chamado A mulher calada: Sylvia Plath, Ted Hughes e os limites da biografia. No livro, Janet analisa não só a vida e obra de Sylvia como também compara as diversas biografias já escritas sobre a autora e os problemas profundos encontrados nas narrativas existentes.
Tive meu primeiro contato no ano passado com a obra de Sylvia através do livro A Redoma de Vidro, que me pegou de surpresa. Comecei a leitura sem saber maiores informações e, o que parecia uma história leve e despretensiosa no início, me levou a um relato muito preciso sobre o declínio de uma mulher numa depressão profunda.
Mais tarde fui saber que o romance na verdade é uma semi-autobiografia da autora, que narra sua própria história de desenvolvimento da depressão, o período do estágio como editora em Nova Iorque e as tentativas de suicídio. Sylvia teve que publicar o livro assinando com um pseudônimo por medo da recepção negativa de familiares e amigos envolvidos na história.
É muito triste perceber como as estruturas machistas afetam a saúde psíquica da mulher. Imagine na década de 1950-60, período retratado no livro de Sylvia Plath. Na época, o diagnóstico de depressão era em geral mais difícil, e a situação se agravava em países como os EUA, que faziam uso de tratamentos de choque e lobotomia em pacientes com transtornos mentais.
A história de Sylvia é um campo rico pro debate do silenciamento da mulher. Ela é silenciada até hoje em seus escritos autobiográficos, às vezes para parecer mais "dócil" e menos sensual aos olhos dos leitores. As censuras, cortes e edições maldosas em seus diários publicados são analisados na biografia de Janet, que analisa trechos omitidos de outras publicações e relatos discrepantes.
Depois de sua morte precoce, Sylvia teve um dos seus diários destruído pelo ex-marido Ted Hughes - justamente o volume que cobria o período da crise do casal, da separação e dos meses de produção do livro de poemas Ariel, considerado a obra-prima da autora, concluído pouco antes de seu suicídio.
A destruição póstuma do diário de Sylvia Plath me perturba muito. Também me perturba saber que seu ex-marido e sua ex-cunhada (cabe frisar que nenhum dos dois mantinha uma relação amigável com a autora antes de sua morte) foram responsáveis pelo espólio da autora e detentores de seus direitos autorais por décadas. Existe uma edição recente dos Diários de Sylvia Plath, publicado após a morte de Ted Hughes, que resgata passagens suprimidas em publicações anteriores.
Durante a leitura do Redoma de Vidro, fiz uma playlist de músicas para ouvir enquanto terminava o livro - e que coloco pra tocar enquanto leio a biografia.
Neste ano vou continuar com meu projeto Leia Mulheres - dedicando a maior parte das minhas leituras a autoras mulheres - e intercalando, eventualmente, alguns livros escritos por homens. E acho que devo fazer alguma ilustração sobre a Sylvia Plath também, porque sua história me emocionou muito.
Ufa... Esta foi a primeira newsletter que envio na vida :)
Me conta o quê achou?
bjo bjo!
lari.