Antes de tudo, um breve anúncio
Neste final de semana, dias 17 e 18 de Agosto, participarei pela primeira vez como expositora no evento O Mercado — @estilistasindependentes — no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro / RJ.
Abaixo estão algumas das peças que vou levar para venda:
O MERCADO
17 E 18 DE AGOSTO DE 2024 | 11h ÀS 19h
RUA DO PINHEIRO, Nº 10 - FLAMENGO
NO IAB/RJ, PERTO DO METRÔ DO LARGO DO MACHADO
RIO DE JANEIRO - RJ
Venha nos visitar!
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Clarice, não brigue comigo
Cá estou eu, humildemente adentrando terrenos lispectorianos pela quinta vez. Ou sexta, se a releitura que fiz do A Paixão Segundo G.H. contar como nova leitura. Para mim, fez total diferença ler este livro em 2014 e em 2022. Odiei na primeira leitura, amei na segunda. O livro lido, apesar de um leve desgaste adquirido através dos anos, é exatamente o mesmo; quem mudou fui eu.
(Heráclito diria que o livro também mudou, mas deixa quieto)
Desta vez, estou lendo Água Viva — um livro fininho, menos de cem páginas… vai achando que é algo assim, miudinho, facinho, só no rasinho. Vai lá, confia.
Eu sabia que o livro tinha uma construção improvisada, sem começo nem fim pré-determinados, dada sua tentativa de apreensão do agora (ou o instante-já, como denomina a personagem sem nome da narrativa).
Existe uma narradora que se identifica, às vezes, quase a contragosto, como ela; e existe o outro, o complementar, a quem ela (elu?) se refere, também quase que se desviando da definição de seu gênero (ou de qualquer outra definição) como ele. Beleza; temos um "ela" e um "ele" no livro. Então, qual é o enredo?
Segura essa: não tem. Quero dizer, não há uma história propriamente: não há uma narrativa construída a partir de uma sequência de fatos. Há, sim, muitas ideias. E algumas tentativas de desvendamento de véus.
Quem já leu alguma obra alquímica vai encontrar uma sequência interessante de referências possíveis no texto de Clarice. O casal que permeia o livro pode ser a tentativa de realização do casamento alquímico, simbólico, para que a narradora alcance finalmente a permanência absoluta que se encontra por detrás das definições passageiras: aquilo que é, eternamente, sem começo nem fim. Apenas é.
Não acho que é o tipo de leitura das mais agradáveis. Pode parecer muita loucura, muito non-sense e muita falta de enredo para alguns. Eu entendo. Foi exatamente esta a impressão que tive da Paixão Segundo G.H. na primeira vez que li. Sinceramente, por que tanta piração em cima de uma barata?
Hum… talvez porque o inseto que desperta nojo sirva de alegoria para algo muito maior. Sinto que este it que Clarice tenta tanto apreender em Água Viva é a mesma substância que escorre da barata da Paixão. A barata foi somente o prenúncio. Água Viva é a tentativa completa de dissecação.
Eu estou correndo um grande risco aqui. Me dou conta AGORA (olha ela sendo jazzística, toda trabalhada na escrita do improviso, ui) de que esta é a primeira vez que escrevo publicamente sobre um livro que ainda não terminei de ler. Ainda existe a possibilidade de haver uma reviravolta na segunda metade; vai que Clarice chuta o pau da barraca e, num ato de fúria, enfia o dedo no meu it?
Ainda é possível detestar o livro? É. Mas, agora, estou amando.
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O algoritmo do YouTube, muito espertinho, rapidamente identificou que estou numa fase lispectoriana e me sugeriu este vídeo (um média-metragem) sobre as vivências de Clarice Lispector na cidade do Rio de Janeiro, conduzido pela biógrafa da autora, Teresa Montero:
Eu ia dar um spoilerzinho aqui sobre o vídeo, mas desisti. Vou manter a possibilidade de surpresas em aberto.
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Espero que Clarice, onde quer que esteja, não desaprove as coisas que escrevi nesta humilde newsletter.
Máximo respeito por ela. Certeza que era bruxona.
Obrigada por me lerem até aqui!
Um abraço,
lari.
Eu amo Água viva, acho que é meu preferido. Esse ano vou reler algumas obras dela na faculdade, tô animada. Claricinha é tudo, essa estranha tão querida.