Sonhei que era refém de um cativeiro de luxo. Era uma casa aparentemente grande; digo aparentemente porque não me interessei em explorar aquele espaço. Aquela casa não era minha e eu estava sendo mantida ali contra a minha vontade. Tudo o que me interessava no sonho era retomar minha liberdade.
Eu estava presa numa sala ampla, clara e bem mobiliada. O cômodo tinha uma porta grande de vidro que dava para um jardim bem cuidado. Entretanto, toda aquela aparência de conforto e bem-estar me era somente isso, uma aparência. A sensação que eu vivia era de risco de vida e isto me colocava uma necessidade urgente de fuga. Porém, eu me encontrava sob o olhar atento do vigia: um homem igual ao Alfred Hitchcock, com o mesmo terno preto, o mesmo bico e, o mais importante: aquele olhar de quem te julga, te controla e te condena, sem ser necessário expressar uma só palavra.
O homem de olhar petrificante me vigiava de perto. E ele tinha uma arma que exibia para me amedrontar. Era uma foice no formato clássico, de lâmina bem curvada. A mesma foice do símbolo do Comunismo.
Eu precisava sair dali.
Em algum momento meu vigia se distraiu. Eu vi a foice pousada sobre a maçaneta da porta de vidro e tomei-a para mim. Apesar de já estar na porta de saída, eu precisava voltar e pegar um objeto fundamental: um livro meu que estava sobre uma mesa.
Dane-se. Com a foice numa mão, pego meu livro com a outra e saio desembestada da sala, da casa, do cativeiro. No jardim, me dou conta de que o vigia tem dois carros de luxo estacionados à sua disposição. E o homem me persegue, sem pressa, com aquele mesmo olhar opressor e tão seguro de si. Eu tenho uma foice na mão, um livro na outra e minhas pernas. Tento correr o mais rápido que posso... e não consigo.
Me frustro profundamente porque cada passada que dou equivale a uma pernada de astronauta na Lua. Me movo muito mais lentamente do que gostaria. Ele me olha, ele tem dois carros velozes à disposição. E eu, a fugitiva lenta, tenho a foice e o livro nas mãos.
Acordei do pesadelo.
Certa vez, uma pessoa que me seguia nas internetes da vida me disse para parar de compartilhar meus sonhos publicamente. O argumento usado foi de que o sonho é um material íntimo demais para ser compartilhado com estranhos.
Eu concordo que o sonho é algo muito íntimo. Mas discordo de que devo me render a um medo infundado com relação ao compartilhamento de certos conteúdos.
Quem disse que os desenhos que faço não tem pedaços viscerais meus expostos por lá?
Junho estarei em Brasília
Dias 8 e 9 de Junho de 2024 estarei em Brasília, participando mais uma vez do MOTIM!
Pra quem não conhece, o MOTIM é uma feira colaborativa de arte impressa que acontece há anos na capital. Nesta edição, seremos mais de 300 expositores de diversas linguagens artísticas vendendo nosso trabalho diretamente ao público. A feira vai contar com um espaço de comidas e bebidas típicas juninas, pra fazer nosso arraiá-artístico acontecer. Vem que vai ser delícia!
MOTIM
8 E 9 DE JUNHO DE 2024 | 11H ÀS 20H
GALERIA DOS ESTADOS | BRASÍLIA - DF
Por conta da viagem, as compras realizadas na minha loja virtual nesta semana serão postadas somente a partir do dia 11/06, quando estarei de volta.
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Obrigada por lerem meus textos e meus pesadelos mais loucos, que insisto em compartilhar com estranhos na internet.
Uma foice na mão e um livro na outra,
lari.
Tenho uma indicação de leitura para esse seguidor desacreditado do poder dos sonhos contados: O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos yanomami, de Hanna Limulja. Beijos, Lari, até a próxima marolinha
Só digo uma coisa: OBRIGADA por compartilhar seus pensamentos mais íntimos, profundos e sinceros! Sonhos são maravilhosos.