Não fazer da Morte um ursinho de pelúcia
Quando a negação da sombra é tanta que se pinta a Morte em tons pastéis
Nesta newsletter eu vou falar sobre os seguintes assuntos:
Camiseta Coma Vegetais, Gostoso Demais
Um baralho oracular sem cartas difíceis não é um baralho completo
Uma leitura introdutória sobre Alquimia
Pega uma água e volta aqui pra ler, porque essa vai ser longa.
Vou começar pelo assunto mais rapidinho:
Camiseta Coma Vegetais, Gostoso Demais
VENDAS ABERTAS da camiseta COMA VEGETAIS, GOSTOSO DEMAIS, criada por mim e vendida pela loja virtual da El Cabritón !
As camisetas são confeccionadas em tecido 100% algodão e, nas fotos, estou vestindo o tamanho P do modelo unissex.
As camisetas estarão à venda somente até dia 09/12! A verba arrecadada ajudará a custear a minha participação no Festival El Cabriton, que acontecerá em São Paulo (capital), no dia 9 de dezembro. O Festival contará com a participação de mais de 90 artistas vendendo presencialmente seus trabalhos. E eu serei uma das participantes.
ENTÃO:
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Aprecia uma alimentação rica em vegetais?
Talvez, quem saiba, já seja adepto do vegetarianismo, ou até do veganismo?
Talvez seja um simpatizante a caminho de...?
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Sérião, me ajuda demais.
Um baralho oracular sem cartas difíceis não é um baralho completo
Um baralho oracular funcional deve ser capaz de abarcar TODAS as experiências humanas - inclusive as mais duras.
Quando um novato inicia seus estudos sobre o tarô, é comum tremer diante das cartas interpretadas como "ruins". E, aqui, já começa o primeiro nó cognitivo: existe isso de carta ruim e carta boa? Quando aprendemos de fato a ler o tarô, entendemos que depende. Se a carta é favorável ou uma pedra no sapato do consulente, depende da pergunta feita, do assunto envolvido, da posição da carta no jogo, dentre tantas outras variáveis.
Mas, de fato, existem as cartas ~ trevosas ~ (vide as cartas do Caminho da Dor descritas pelo Nei Naiff no volume 2 dos seus Estudos Completos do Tarô, os Arcanos XII ao XVI).
Até aí, beleza. Como estudantes de uma linguagem oracular, a gente aprende a ler e interpretar aquele vocabulário específico. E, mesmo que seja uma língua que já tenhamos certa fluência, é sempre desafiador anunciar péssimas notícias a alguém.
Não é porque certos temas são desconfortáveis que devam ser eliminados do seu vocabulário. Se eu escolho não falar de um assunto difícil, ele deixa automaticamente de existir? Se não nomeio uma dor, ela pára de doer? Se acaso eu nunca mais fale a palavra MORTE, ela cessa suas atividades?
Agora, imagina um serumaninho pegar um dicionário de uma língua qualquer e excluir todos os verbetes tidos como ruins. A justificativa seria publicar um dicionário good vibes, com um vocabulário que só transmita mensagens positivas. O dicionário alto astral servirá para seu público como um tradutor "universal" (entre muitas aspas) de qualquer questão atravessada pelo leitor. O dicionário em questão é um baralho oracular good vibes, fofinho, sem cartas desafiadoras - ou, no mínimo, com os arcanos do tarô do Caminho da Dor destituídos de qualquer aspecto sombrio.
Dá pra ler alguma coisa com o mínimo de acuidade com apenas metade de um vocabulário?
Não dá.
O medo de abraçar o capeta enquanto se está no inferno das cartas desafiadoras é tão grande que eu canso de ver romantizações sendo feitas nas redes sociais sobre, por exemplo, a carta da Morte:
"Entãoooo, não se assuste, na verdade ela não fala da morte literal não, é uma oportunidade *linda* de transformação que aparece no seu caminho, amiga!"
Mano, leia a carta:
Morte.
Às vezes a morte é literal SIM.
…
Às vezes também não é.
Não dá pra gritar em desespero quando aparece um Arcano XIII na sua leitura de tarô - porque a morte pode sim ser SIMBÓLICA, como o fim de um relacionamento, a saída de um emprego, um desapego material, um ciclo que você termina.
Contudo, os SIGNIFICADOS dos SÍMBOLOS ORIGINAIS, por mais que reinterpretados para uma arte contemporânea, DEVEM SER RESPEITADOS - morte, caveira, foice, cabeças decepadas no chão, lhe parecem algo macio, fofinho e delicioso de ser desfrutado?
Adoro releituras de cartas de tarô. Tenho uma coleção de baralhos (não só de tarô, mas de baralhos ilustrados em geral). Acho lindo ver reinterpretações artísticas contemporâneas, algumas com tons de regionalidade, outras com aspectos sociais e políticos atravessando as representações dos arcanos.
Mas o que não dá, pra mim, é excluir TODO o conteúdo de SOMBRA de um baralho qualquer e varrer pra debaixo do tapete, em nome de uma certa higienização alto astral em tons pastéis e cheiro de tutti-frutti.
Todo baralho que se pretenda oracular tem que ter as cartas desafiadoras no pacote. E se a gente sorteia uma dessas cartas na nossa leitura, que aprendamos a lidar com isso. Ou, então, que não perguntemos nada às cartas. Também é uma opção.
Uma leitura introdutória sobre Alquimia
Estava precisando ler sobre Alquimia. E me era necessário encontrar uma obra confiável sobre o assunto, e que fosse palatável a uma iniciante como eu. A gente sabe que a internet é um mar inesgotável de informação, e que no meio desse caldo (com águas altamente duvidosas e até insalubres) é possível encontrar algumas poucas fontes relevantes sobre o assunto. Só que ~ fontes da internet ~ servem só a entradinha. Pra comer o prato principal, tem que encomendar o livro. E não basta encomendar o livro e pôr na estante; tem que ler, viu? risos nervosos.
Foi através de algum caminho doido desses, pela internet, que eu cheguei no nome do Titus Burckhardt. Eu li a biografia dele antes e, de fato, o santo bateu. Eu sabia de um outro autor que tem um livro clássico, talvez mais famoso, que também é uma introdução ao hermetismo e aos processos alquímicos. Porém, o autor em questão é um ícone fascista, misógino, racista - que inclusive se utilizava de algumas leis herméticas para justificar conceitualmente o estabelecimento de um Estado anti-igualitário. E a literatura do cara ainda é usada como pilar teórico de neofascistas até hoje. Gente, como eu cheguei nesse assunto??? Nem vou mencionar o nome do cabra aqui. Eu queria ler algo introdutório sobre Alquimia, um fascista não dava; escolhi o Titus Burckhardt.
E que bom que escolhi o Titus.
"O limiar ético [que o alquimista deve evitar] é a tentação de só buscar a arte alquímica em vista do ouro. Os alquimistas insistem constantemente em que a cobiça é o maior obstáculo a sua obra. Este vício está para sua arte como o orgulho está para a 'via do amor' e o autoengano para a 'via do conhecimento'. A cobiça aqui é somente um outro nome do egoísmo, do apego ao próprio ego escravizado às paixões. (...) Somente a compaixão nos livra dos ardis do ego, que em todas as suas ações busca somente espelhar-se.”
Alquimia: Ciência do Cosmos, Ciência da Alma, pgs 27 e 28.
O livro é curto, a linguagem é clara e concisa, e estou amando a leitura. Contudo, é repleto de simbolismos (Alquimia, tchan!) e como são muitos conceitos profundos aplicáveis a uma miríade de possibilidades, estou levando mais tempo do que o habitual para ler cada página.
Tem um detalhe muy interessante nesse livro do Titus que me fez gostar ainda mais: ele defende a não-psicologização da Alquimia. Em vários trechos ele demonstra até irritação com a apropriação do vocabulário alquímico por parte de Jung e seus seguidores. E, veja bem, eu admiro Jung! Talvez tenha sido ele a minha porta de entrada para ler sobre o assunto. Mas, olhe só, aplicando neste momento um conceito hermético, nenhum autor é completo sem o seu oposto, e Titus Burckhardt é sua contraparte perfeita - pelo menos no que toca ao assunto. O que entendo da crítica de Titus é que a psicologia, sozinha, não dá conta de traduzir TODO o conteúdo espiritual alquímico. A Alquimia, por outro lado, é aplicável em TUDO - inclusive na psicologia. Posso estar equivocada neste entendimento pois ainda estou na página 118 do livro (rs), mas deixo aqui a impressão que ficou em mim até o momento.
Essa newsletter segue sem nenhuma periodicidade definida. Quando tenho assunto (e tempo), eu venho aqui e escrevo. Às vezes eu demoro porque não sei se o que quero escrever vale a pena ser publicado. Daí, às vezes, num impulso-combustão, eu publico :)
Um abraço,
lari.