Oi, gente! Queria primeiramente agradecer a todos que fizeram uma compra na minha nova loja virtual, anunciada na última news enviada. Deu trabalho, mas deu certo!
Nesta newsletter eu vou falar sobre os seguintes assuntos:
A autobiografia de Jung
O Sonho de Greta
Sobre a reabertura da loja virtual
A autobiografia de Jung
Terminei há alguns dias a leitura do livro Memórias, Sonhos, Reflexões.
Como avisado na introdução, não se trata de uma autobiografia nos termos tradicionais da categoria; Jung omite várias passagens importantes da sua vida intencionalmente, inclusive algumas das mais "polêmicas".
O autor decide por trilhar uma autoanálise da evolução de seu mundo interior e, consequentemente, como esse desenvolvimento se refletiu em sua obra e em alguns de seus relacionamentos mais importantes.
O capítulo sobre sua amizade com Freud e a posterior ruptura da relação é o mais, digamos, fofoqueiro - por sanar algumas das curiosidades bestas que temos a respeito da vida íntima de pessoas importantes que admiramos. Ao mesmo tempo, Jung consegue manter uma bonita elegância escrevendo sobre o antigo mestre, preservando sua admiração e respeitando informações particulares de Freud dos olhos do público.
Confesso que morri de curiosidade quando Jung se negou, no livro, a relatar o conteúdo de um sonho descrito por Freud a ele (ambos submetiam seus sonhos, um ao outro, para análise). Jung comenta que o sonho de Freud lhe parecia revelador. Mas, para compreender melhor os símbolos oníricos presentes, Jung pediu um esclarecimento sobre algum detalhe da vida pessoal de seu mestre. A pergunta foi o suficiente para desconcertar o pai da psicanálise: "Não posso arriscar minha autoridade!" foi, segundo Jung, sua única resposta.
Interessante acompanhar no relato de Jung como essa ruptura foi, apesar de muito sentida para ele, fundamental para o desenvolvimento de sua própria linha de pesquisa; ele não poderia continuar se limitando ao papel de discípulo e precisava romper com a figura do "pai". Essa investigação própria é narrada no capítulo em sequência, Confronto com o inconsciente. Este é o período em que Jung se dedica a registrar, por escrito e através de pinturas e desenhos, seus sonhos e visões. Sim, Jung tinha visões acordado, recebia visitas de mestres e travava longos diálogos com eles. Desses anos de mergulho introspectivo nasceu o Livro Vermelho.
O capítulo das Viagens foi o ponto mais fraco pra mim. Jung não escapa dos limites de sua condição (homem branco, europeu, classe alta) e solta algumas expressões e considerações racistas. Não considero que isso desqualifique toda a obra dele, mas é um ponto importante a ser levado em conta. Toda análise humana é limitada pelos próprios contornos de sua percepção, não importa o quão genial e à frente do seu tempo certo autor seja. Ele ainda é humano e passível de cometer vários equívocos.
Dito isto, passei pelo capítulo das Viagens com um certo desgosto aqui e ali, até chegar na parte que mais me impressionou: o relato de uma experiência de quase-morte de Jung, ricamente ilustrado através de palavras. É possivel ilustrar com palavras? Certos autores conseguem. O homem tinha uma capacidade de detalhamento visual incrível. Mais interessante ainda saber do desdobramento de parte de sua visão com a realidade póstuma que se desenrolou durante sua convalescença. Sem spoilers por aqui.
Muito bonito também o capítulo Sobre a vida depois da morte, no qual Jung tenta falar de intuições inexprimíveis, algumas com base em sonhos dotados de sincronicidades desconcertantes - tanto do analista quando de analisandos. No Apêndice, lá no finalzinho, está quase escondido o texto Sete Sermões aos Mortos, interessantíssimo. Eu realmente acho que este texto merecia uma melhor localização na obra.
No mais, a criação cristã de Jung dá contornos importantes ao seu vocabulário e aos mitos usados na descrição de alguns fenômenos psíquicos. Eu, que não sou cristã e nunca li a Bíblia, boiei em vários momentos da leitura. Me faltou conteúdo para melhor compreensão de algumas partes.
Ler essa autobiografia de Jung me fez retomar uma antiga vontade de finalmente ler a Bíblia. Como entender de mitologia e simbologia ocidental sem ler este livro na íntegra?
Voltando ao livro de Jung: leitura-delícia pra quem gosta do tema do Inconsciente, com menos fofocas do que você gostaria de ler. Em compensação, com mais sonhos, visões e processos subjetivos ricamente detalhados do que você poderia esperar.
O Sonho de Greta
Quase que imediatamente após a leitura da autobiografia de Jung e embalada pelo tema da interpretação de sonhos, vi um filme curto e sem qualquer expectativa que me surpreendeu: O Sonho de Greta. Vi na Mubi. Me irritei muitas vezes com a Netflix e assumi que a plataforma não estava dando conta pro meu gosto de filme. Assinei a Mubi, que também me irrita um pouco porque demora à beça pra colocar filmes novos no catálogo - e quando entra algum, muitas vezes… eu já vi. Risos.
Enfim. O Sonho de Greta tem uma premissa despretensiosa, divertida - parece um clipe da MTV dirigido pelo Wes Anderson, mas é um filme liderado pela diretora australiana Rosemary Myers. É sobre uma menina prestes a fazer 15 anos, cheia de angústias adolescentes. Daí, no auge de sua crise existencial, ela mergulha num sonho profundo. Que toma cerca de 1/3 do filme, talvez? E que faz a história ganhar substância. Quem escreveu esse roteiro tem uma sensibilidade danada para o universo simbólico. O que era aparentemente bobinho ganhou uma profundidade subjetiva incrível. Fiquei catando todos os detalhes que podia e fazendo as associações interpretativas, aqui e ali. Enfim, amei.
O Sonho de Greta está prestes a sair do catálogo da Mubi. Fica a dica.
Sobre a reabertura da loja virtual
Deu tudo certo, ufa! Pude testar com essa abertura-piloto a plataforma nova (migrei da jurássica Iluria para a atualizada Nuvemshop). Pude verificar os sistemas de pagamento, o cálculo de envios (o frete ficou muito mais barato), e toda a logística nova de etiquetação, nota fiscal, e uso do ponto de coleta da Melhor Envio. Eu estava aflita, mas foi mais tranquilo do que imaginava.
Obrigada a todos que compraram na minha loja! Desta forma vocês apoiam a continuidade do meu trabalho.
Em março farei a reabertura oficial da loja anunciando no meu perfil do Instagram e aquela coisa toda. O saldão das caixas do Baralho Oráculo com pequenos defeitos deu muito certo! Também estou produzindo reposições y coisas novas. Vai ter panão de volta na lojinha? Vai sim ;-)
Fico por aqui.
Em breve trago novidades!
lari.