Oi! Não sei como foi o mês de junho por aí, mas por aqui foi brabo. Na medida do possível, espero que vocês estejam bem.
Nesta newsletter eu vou falar sobre os seguintes assuntos:
Primeira feira presencial em dois anos
Queda do Céu em Inhotim
Inteligência artificial produz arte?
Chicletes
Primeira feira presencial em dois anos
Depois de 2 anos de um hiato pandêmico sem fim, farei minha 1º feira presencial pós-durante-covid-seilá num lugar que gosto muito: Centro de Artes UFF ♥
Por conta de um compromisso familiar, serei representada na feira pelo também artista Roberto Rosa, que cuidará da minha mesa no evento e fará as vendas por mim :)
ONDE? Rua Miguel de Frias, 9 - Icaraí (Niterói - RJ)
QUANDO? Dias 2 e 3 de Julho (próximo final de semana)
QUE HORAS? Das 10h às 17h
QUANTO? Entrada gratuita :)
Estarão à venda algumas caixas do baralho Oráculo, prints e panões com artes da série. Procurem o Roberto Rosa por lá (nas mesas DENTRO da galeria da UFF).
Queda do céu em Inhotim
Estou assistindo de pouco em pouco a série Inhotim, que fala da construção do museu-jardim que fica em Brumadinho, MG. Eu consegui visitar o espaço duas vezes, em anos diferentes, mas sinto muita vontade de voltar. Talvez o documentário estrague um pouco algumas surpresas de quem nunca foi às galerias mas pretende ir, algum dia. Por isso, assista por sua conta e risco, rs. Eu particularmente prefiro preservar o máximo possível do mistério antes de pisar neste tipo de espaço, justamente para possibilitar o encantamento da experiência. Mas isso é coisa minha.
Definitivamente, assistir ao documentário arranca alguns véus: o segundo capítulo (chamado Curadoria) tem uma declaração constrangedora de um dos curadores do museu a respeito de como se formou a primeira coleção de obras de Inhotim. Foi em 2001, logo após o atentado de 11 de setembro. Com a tragédia, segundo o curador, as vendas e os preços das galerias de arte de Nova York despencaram. Bernardo Paz, o criador de Inhotim, enxergou nisso uma ótima oportunidade de negócio. Os dois pegaram o primeiro avião para Nova York e fizeram uma grande compra de obras de arte com valores muito abaixo do mercado. Enfim, o capitalismo: prédios caíram, aviões explodiram, pessoas morreram, mas fizemos um excelente negócio. O que me surpreende mais nessa história é a total inibição em falar isso publicamente, para ser gravado e exibido ao público. Complicado. Quase parei de assistir a série aí.
Mas não parei. Ainda bem, porque pude assistir ao episódio da Claudia Andujar.
Assisti este capítulo em duas partes, porque havia tanto o que digerir ali que eu precisava de tempo para elaborar. Digestão lenta, sabe? Claudia Andujar é uma fotógrafa suíça naturalizada brasileira que passou anos convivendo com os índios Yanomami e estudando sua cultura, seus rituais e mitos, enquanto fazia seu trabalho fotográfico. No episódio, podemos fazer uma visita à galeria reservada para as fotografias de Claudia dentro de Inhotim, junto com um grupo de índios Yanomami. A visão deles sobre a fotografia, sobre o espaço expositivo e, principalmente, sobre a floresta "reconstruída" de Inhotim diverge bastante do senso comum do homem branco urbano. Davi Kopenawa, porta-voz dos Yanomami, é um dos que visitam a exposição com fotos de seu povo e faz uma excelente crítica na sua declaração - muito direto, pontual, sem politicagem, sem papas na língua. Esse episódio é sensível, denso e complexo porque fala de arte mas não só, fala da sobrevivência de uma cultura ancestral. E Claudia defende o fazer artístico como forma de sobrevivência.
A história pessoal de Claudia se mistura e se entrelaça com a dos Yanomami, mesmo se tratando de um extermínio de outro povo, acontecido em terras distantes. Eu não vou dar spoiler aqui, mas vale assistir esse documentário só pra chegar nesse capítulo, ou até pular direto pra ele, e se arrepiar, se emocionar e questionar: o que sabemos nós sobre nossa própria natureza originária?
A série Inhotim está disponível na Netflix.
Inteligência artificial produz arte?
Aprendo um bocado de coisas com meus alunos do curso de baralhos ilustrados da Domestika. De tempos em tempos visito o fórum do curso, dou assistência e pitacos, e vejo os projetos que estão sendo produzidos por lá. Acontece que um dos meus alunos publicou um projeto de baralho ilustrado cujas ilustrações não são dele. Tampouco foram feitas por outra pessoa. O aluno, sem saber desenhar, recorreu a um aplicativo de inteligência artificial que produz imagens artísticas a partir de palavras-chave. Eu nunca tinha visto isso antes na prática, fiquei encasquetada e fui averiguar. Funciona assim: você escolhe um "estilo artístico" dentre os 24 estilos disponíveis - que vão desde fantasia, steampunk, psicodélico, etc - e digita as palavras-chave do que você quer ilustrar. Daí, clica no botão "criar" e foi. Foi?
Resumo da história: ainda não tem. Não sei o que pensar sobre esse tipo de imagens criadas por inteligência artificial. Com o exemplo acima fica claro que o nível de detalhamento das figuras ainda é muito rudimentar, mas nem é este o ponto. O que eu queria pensar é: se eu não sei fazer alguma coisa e delego para uma máquina fazer… a autoria ainda é minha? Se eu não sei fazer alguma coisa e delego para uma máquina fazer… onde e quando terei espaço para aprender? Se uma máquina (ou inteligência artificial, APP, o que seja) é capaz de criar imagens a partir de combinações selecionadas… isso é arte?
Para entrar na doideira, visite a página do app.wombo.art e teste você mesmo.
Chicletes
Começava assim: eu observava um grupo grande de pessoas discutindo para decidir como seria a organização de uma competição. Foi dito que elas teriam que se dividir em dois grupos: um dos chicletes vermelhos e outro dos chicletes azuis. Mas observando quieta, logo identifiquei um problema: o propósito defendido pelos chicletes vermelhos não era bem visto socialmente. Transparecia uma certa dose de egoísmo e de competição pelo puro prazer em ganhar. Por isso, muitas das pessoas desistiram de competir representando os chicletes vermelhos porque pegava mal. Por outro lado, os chicletes azuis tinham um discurso de moral elevada, dignidade e soberania espiritual. A maior parte das pessoas optou por representar os chicletes azuis.
Achei que a competição seria injusta pela diferença do número de participantes de cada grupo. Neste ponto do sonho, me senti na possibilidade de redefinir as regras do jogo: as pessoas se dividiriam em dois grupos numericamente idênticos, ainda separados entre chicletes vermelhos e azuis. Porém, sem qualquer tipo de autodeclaração: se é bom, ruim, elevado ou materialista, pouco importa. Escolhe uma cor de chiclete e vai.
Fiquei satisfeita com a nova divisão, mas subitamente me veio outro pensamento. A organização ainda não estava justa. Era necessário considerar um terceiro grupo: o das pessoas que não queriam participar da competição.
Termino esta carta virtual por aqui.
Obrigada a quem me leu!
E quem estiver em Niterói, vai lá ver minhas coisas ;)
lari.
Amo sua newsletter! Grata <3